sábado, 25 de agosto de 2018

CARTA ESPECIAL



Rute olhou a caixa dos correios e encontrou uma carta. Apanhou-a, olhou e, antes de abrir, percebeu que o envelope não tinha  selo, carimbo do correio ou nome e endereço do remetente. Em todo o caso abriu e leu a carta.

- Querida Rute, estarei nas imediações sábado à tarde e gostaria de fazer uma visita. Com o amor de sempre, Jesus.

As mãos de Rute tremiam, enquanto ela colocava a carta na mesa. "Porque quereria o Mestre me visitar? Não sou ninguém especial, não tenho nada para oferecer..." 

Com esse pensamento Rute lembrou-se que a dispensa estava vazia. "Oh, meu Deus, eu não tenho nada em casa. Tenho que sair e comprar algo para o jantar". Pegou a bolsa e o dinheiro que tinha, 25 reais e 40 centavos. "Bem, é o suficiente para comprar pão e alguns frios, pelo menos".

Ela colocou o casaco nas costas e correu para a porta. Uma baguete e meio quilo de peito de peru fatiado, um saquinho de leite... e Rute ficou com apenas 12 centavos até a próxima segunda-feira. Mesmo assim, sentiu-se bem ao voltar pra casa, carregando os alimentos que ofereceria.

- Ei, senhora! A senhora pode nos ajudar? 

Rute estava tão absorta em seus planos para o jantar que nem se deu conta das duas figuras na calçada. Um homem e uma mulher, ambos vestidos com pouco mais que trapos.

- Olhe, senhora, eu estou desempregado, a senhora sabe. Minha mulher e eu temos vivido aqui nas ruas e, bem, agora está esfriando e estamos com fome e, bem, se a senhora pudesse nos ajudar, ficaríamos muito agradecidos.

Rute olhou para ambos. Estavam sujos, cheiravam mal e, francamente, ela estava certa de que poderiam conseguir trabalho se realmente o quisessem.

- Senhor, eu gostaria de ajudá-los, mas também sou uma mulher pobre. Tudo o que tenho são alguns frios e pão. Mas terei uma visita importante para o jantar e planejava servir essas compras para ele.

- Está certo, senhora, eu compreendo. Obrigado de qualquer modo.

O homem passou os braços em volta dos ombros da mulher, virou-se e voltou para a calçada. A medida que Rute os olhava partir, Rute sentiu um enternecimento familiar no coração.

- Senhor, espere! - o casal parou e voltou-se, enquanto ela corria em direção a eles - Olhe, por que vocês não ficam com essa comida? Eu arranjarei alguma coisa diferente para servir ao meu convidado - ela estendeu a sacola com as compras.

- Obrigado, senhora, muito obrigado.

- Sim, muito obrigada! - era a mulher do desempregado. Rute pode ver que ela tremia de frio.

- Você sabe, eu tenho outro casaco em casa. Por que você não fica com este aqui? - Rute tirou a jaqueta e colocou sobre os ombros da mulher. E, sorrindo, voltou para a rua, a caminho de casa. Sem o casaco e sem a comida para servir ao convidado.

- Obrigado, senhora, muito obrigado.

Rute estava gelada quando chegou na porta da frente e preocupada também. O Senhor estaria vindo para uma visita e ela não tinha nada para oferecer a ele. Ela enfiou a mão na bolsa para apanhar a chave da porta. Nesse momento percebeu que havia outro envelope na caixa dos correios. "Que estranho, o carteiro não passa normalmente duas vezes no mesmo dia".

- Querida Rute, foi tão bom ver você outra vez! Obrigado pela refeição deliciosa e obrigado também pelo bonito casaco. Com o amor de sempre, Jesus.

O ar ainda estava frio mas, mesmo sem o casaco, Rute não percebeu mais.

Autor desconhecido

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