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| Presentes não são tudo o que uma criança precisa |
Me lembro quando eu era pequena ficava contando os dias para a chegada do Dia das Crianças. Era uma das datas mais esperadas do ano, contando com o meu aniversário e o Natal. Em todas elas o momento mais esperado era a entrega dos presentes, sempre ficava imaginando qual seria desta vez. Era uma alegria! No meu aniversário eu também ficava ansiosa pela festinha e pelo parabéns. No Natal a entrega dos presentes era precedida de um ritual. Na véspera, dia 24, meu pai colocava eu e minhas irmãs para dormir mais cedo alegando que se estivéssemos acordadas o Papai Noel não iria vir para deixar os presentes. Ficávamos ansiosas pelo dia seguinte e às vezes custávamos a pegar no sono. Já adormecidas, papai vinha pé ante pé e colocava os presentes debaixo de nossas camas.
De manhã, a primeira coisa que eu fazia depois de abrir os olhos era olhar por baixo do móvel. E lá estava ele, muito bem embrulhado. Imediatamente agarrava o meu presente e saía correndo, junto com minhas irmãs, mostrar o presente que o Papai Noel me deu para o papai e a mamãe. Ahhh… depois disso o dia todo era só festa! Quando as filhas ficaram adolescentes o ritual mudou: os presentes eram deixados embaixo da Árvore de Natal, e tinha um momento especial na noite do dia 24 que era o da entrega dos presentes. Teve um ano que chegamos a fazer um amigo secreto com alguns parentes e amigos.
Hoje as pessoas não encaram mais as datas comemorativas com esse encantamento. Estamos na era do consumismo, onde as pessoas se vêem obrigadas a dar presentes, mas quase sem nenhum sentido. Simplesmente por dar, sem qualquer outro significado. E as crianças não tem mais inocência. Qual delas hoje acredita em Papai Noel? Tudo bem, não existe, mas ele é importante para o imaginário infantil. A infância é uma etapa da vida, e pular etapas pode ser prejudicial para o desenvolvimento da criança. Hoje as crianças vão às lojas junto com os pais escolher o presente. Não tem mais o mistério, a expectativa, a ansiedade pela entrega. Está tudo muito mecânico. A criança escolhe na prateleira, o pai paga e entrega, ali mesmo, na loja. Acabou a hora de desembrulhar o presente, que é tão gostoso.
Sou totalmente a favor de dar presentes. Eu mesma sempre gostei de presentear. Há tempos atrás fazia mais isso, mas percebi que eu era uma raridade. Hoje continuo dando presentes, mais moderadamente e seletiva. Não é qualquer pessoa que tem esse privilégio. O ato de presentear vai muito mais além de dar o presente. Junto com ele vai uma parte de você. Se você tirou o seu dia para escolher um presente, no mínimo, essa pessoa é importante pra você. Então faça disso algo especial, não de qualquer jeito. Se vai fazer, faça bem feito.
No Dia das Crianças não entregue só o presente. Entregue também você mesmo ao seu filho. Passe o dia com ele, brinque, dê risada. Convide a família para almoçar fora, passear no parque. Se ele for adolescente, converse com ele, pergunte das novidades, como está na escola. Ele vai se sentir importante. E pode ter certeza que, fazendo seu filho feliz, você também será feliz. Porque presentear não é só dar o presente. É também amar.
Loriza Kettle
